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Caminho do Mosteiro

Eu tenho uma grande vontade de fazer o Caminho de Santiago, aquele famoso caminho de peregrinação que fica na Europa, mas ainda não chegou o meu tempo. Enquanto isso, consegui fazer o Caminho do Mosteiro que eu diria que foi uma espécie de treino. Quer conhecer mais? Vem saber como é e como foi, para mim, fazer o caminho do Mosteiro acompanhada do meu filho pré-adolescente e em plena p3nd3m!@.

O que é e onde fica o Caminho do Mosteiro?

Vamos começar do início… O Caminho do Mosteiro nasceu no final de 2018, da ideia do fotografo da região, Gustavo Alves de Oliveira. O objetivo é promover a cultura rural da região, o contato com a natureza e consigo mesmo.

O Caminho do Mosteiro passa por trechos da Serra do Itaquerí, uma região que engloba 14 municípios do Estado de São Paulo. O roteiro completo são 134km partindo de Piracicaba, o marco zero está no Parque Histórico Quilombo Corumbataí no bairro Santa Terezinha, e termina no Mosteiro do Paraíso em Torrinha.

Peregrinação

Peregrinação (do latim per agros, isto é, pelos campos) é uma jornada realizada por um devoto de uma dada religião a um lugar considerado sagrado.

Assim como nas peregrinações famosas, (como o caminho de Santiago de Compostela na Europa ou o Caminho da Fé aqui no Brasil) você compra sua credencial onde indica a rota que deverá ser cumprida. Durante o caminho o peregrino se guia pelas setas azuis e amarelas e vai assim, carimbando sua credencial nos pontos de apoio.

No final de cada dia o peregrino descansa em um alojamento cadastrado pelo caminho.

Para que fazer uma peregrinação?

Devido ao seu significado, muitas pessoas associam a peregrinação a um evento religioso. Porém não é só isso ou melhor, pode ser o que você se dispor a encontrar nesse caminho.

Geralmente a peregrinação é uma forma de se conectar com você mesmo/a, uma “viagem” de introspecção e reflexão.

Esse momento pode acontecer em uma caminhada individual onde o momento é totalmente seu e a introspecção será maior ainda, assim como os desafios. Ou em um grupo onde tem mais estrutura de apoio, tanto dos integrantes como do suporte da organização do grupo como por exemplo, um carro de apoio.

Minha sugestão para o Caminho do Mosteiro:

O Roteiro completo é conquistado em 7 dias de caminhada. Em seguida você encontra a minha sugestão de roteiro para o Caminho do Mosteiro.

Dia1: Piracicaba

Independente de onde você vem o ideal é fazer o pernoite na cidade. O caminho do mosteiro tem duas opções de hospedagem credenciada em Piracicaba, são bem simples, apenas para aquele descanso, assim dá para sair cedinho no dia seguinte e iniciar a caminhada.

Dia 2: Piracicaba – Charqueada  22km

O Marco Zero encontra-se na praça do Quilombo e de lá começamos a seguir as setas. É o dia com maior parte de caminhada por dentro da cidade e um pouco de estrada de asfalto. Passamos pelo bairro Tirolês de Piracicaba, onde tem uma fonte para reabastecer as garrafinhas de água.

Nessa noite a hospedagem será no hotel em Charqueada (desvia 6km do roteiro para entrar na cidade).

Dia 3: Charqueada – Ipeúna – 24km

Seguindo as setas do caminho do mosteiro esse dia te conduzirá ao desafio de enfrentar o sol, os canaviais e os caminhões pelas estradas de terra.

A hospedagem será na área rural de Ipeúna.

Dia 4: Ipeúna – Chácara Pedra Branca – Itirapina- 23km

No quarto dia o seu corpo começa a se adaptar à nova rotina, e por isso, é chegada a hora de aproveitar o caminho.

A hospedagem de hoje é muito especial, com direito a comida caseira de sítio recheada de amor.

Dia 5 : Chácara Pedra Branca – Pousada Brilhante – Itirapina – área rural – 13km

Apesar do percurso ser menor, o trajeto tem algumas partes íngremes.

Vamos atravessar um pedaço da Serra do Itaquerí até chegar na Pousada Brilhante.

Dia 6: Pousada Brilhante – Itaquerí da Serra- 11km

Um dos pedaços mais interessantes do caminho. Tem uma trilha pequena mas bem íngreme.

A Vila de Itaquerí da Serra é puro sossego, aquela típica imagem de cidadezinha do interior.

O pernoite geralmente acontece no Sítio Pinheirão.

Dia 7: Itaquerí da Serra – Bairro Patrimônio Brotas – 33km

Esse é o maior trecho da caminhada. Aqui, se você não está acostumado a grandes caminhadas, você encara um grande desafio!

Como recompensa, a hospedagem é em pousada bem aconchegante!

Dia 8 : Patrimônio – Mosteiro do Paraiso Torrinha – 13km

O oitavo dia traz uma caminhada mais leve. E esse é o dia de maior alegria: o dia da conquista do caminho!

A hospitalidade do Padre Nilton e do irmão Ney é incrível!

Minha sugestão é ficar a noite, assim você terá um encerramento com direito a descanso e ótimo papo.

Dia 9: Mosteiro Do Paraíso- Retorno

É hora de voltar pra casa, cansado, cheio de bolhas nos pés, ou até mordido por cachorro (explico essa parte daqui a pouco), mas também com sensação de dever cumprido!

Se conseguir terminar o roteiro em um domingo, fique para o café da manhã e para a missa.

Como foi essa experiência para mim

A pergunta que mais escutei nesses dias de caminhada foi o porquê estava fazendo isso? Se tinha algum propósito?

A resposta é simples, sem muito mistério, só queria um desafio mesmo. Saber até onde posso ir com minhas pernas.

Mas o processo não é tão simples assim. Desde que comecei a pesquisar sobre peregrinações escutava as pessoas falando que o processo da caminhada fala muito com você, e acho que não dava muita importância para isso. Focava mais na parte prática, quais equipamentos iria precisar, onde ficaria hospedada, como chegar e voltar, que o restante nem parei para pensar.

Caminhando com um pré-adolescente

Aí você começa a caminhar e nos primeiros kms acha tudo lindo, mas ainda no mesmo dia tá se perguntando: o que é que tô fazendo aqui? E no meu caso tinha uma voz a mais a me perguntar isso, era o João, jurando que nunca mais iria caminhar e que no dia seguinte ficaria no hotel!

Pois bem, nada que uma boa refeição, banho quentinho e uma boa noite de sono para renovar as energias e lá fomos nós para o segundo dia.

Alguns Obstáculos

Foi o dia mais desafiador ao meu ver, não só pelo fato de ter levado uma dentada de um cachorro na canela, mas pela dor física no corpo, doía o corpo todo como resultado do dia anterior. E também pelo trajeto mesmo, já que passamos por um trecho de rodovia e depois canavial infinito com chão de terra e muitos pedregulhos. Para completar, haviam os inúmeros caminhões de cana levantando o poeirão em cima de nós o tempo todo. Dessa vez pensava, será que é só isso mesmo que quero fazer?

Mas mais uma vez a jantinha quentinha, feita para nós, nos salvou! Dormimos cedo e acordamos antes do sol nascer, parecia que o corpo estava começando a querer se acostumar.

Reflexões

Um pequeno desencontro com as setas que sinalizavam o caminho logo no início do 3º dia me deixou irritada e tive vontade de chorar. Como não sei por onde seguir??? A mãe aqui não queria mostrar descontrole para o filho, mas é claro que ele sentiu e logo que viu um ciclista pediu ajuda e pudemos seguir no caminho correto e mais tranquilos.
Mais uma vez o caminho me mostrava que não tenho o controle de tudo e que uma ajuda sempre é bem-vinda!!!

O jantar desse dia com certeza ganhou meu estômago e meu coração. Comidinha caseira feita pela D. Roseli, com maior parte dos ingredientes vindos do sítio e acompanhados de uma boa prosa dos moradores que recebem a gente como se fosse um parente em casa. Foi uma injeção de ânimo para continuar na caminhada, mesmo com a perna machucada. Hoje seu Amauri, que abraçou esse projeto não está mais entre nós, mas sua família continuam recebendo os peregrinos. A hospitalidade da Chácara Pedra Branca é com certeza um dos motivos que me fazem querer voltar!

Tomando decisões

O 4º Dia, foi um dia fácil, já tínhamos aprendido muitas coisas no caminho, como andar sempre com o cajado, silenciar nas porteiras de outros sítios, parar sempre que o corpo pedir, e pegar as instruções com o morador para iniciar a caminhada, não custa nada né?

Mas cheguei com bastante dor e resolvi procurar ajuda médica e tive super apoio da Pousada Brilhante, a Silvana prontamente me levou até o hospital, farmácia e me deixou tranquila para tomar a decisão de parar por um dia.

Uma pausa

O 5º dia foi como o João queria, só para relaxar, assistir desenhos na TV, ver os animais do sítio e comer!

Os outros dois dias foram mais leves na caminhada e de fato a maior parte do corpo já havia se acostumado com a rotina, mas descobri alguns pontos do meu corpo que doem mesmo. João estava super bem, sem demonstrar grande cansaço, não teve nenhuma bolha, a mochila dele era mais pesada, mas nunca reclamou ou desistiu, um menino muito forte! Só já estava de saco cheio de fotos e filmagens da mãe que tenta ser blogueira de viagem!

O Mosteiro do Paraíso

A chegada ao Mosteiro do Paraíso foi uma grata surpresa. Chegamos na hora do almoço e quase junto de nós dois motoqueiros chegaram um tanto perdidos por lá e logo se juntaram para almoçar com todos pela insistência do padre Nilton. O lema do lugar é acolher a todos que chegam. Estávamos cansados mas muito empolgados, então almoçamos, conversamos, exploramos o lugar com uma beleza rustica e descansamos um pouco. A tarde tivemos outro dedo de prosa com o padre e as amigas que o visitavam acompanhados de um cafezinho fresquinho.

A noite ainda participamos do jantar e uma sessão de cinema com os sobrinhos do Frei que estavam passando uns dias das férias por lá. A hospedagem é simples, mas o carinho que fomos recebidos fechou o caminho do mosteiro com maestria!

Conclusão

Enfim conseguimos! Mesmo “pulando” uma etapa, considero missão cumprida com sucesso!

Encontramos e conhecemos pessoas incríveis, lugares que se não fosse a caminhada talvez nunca conhecêssemos. E o mais importante: também conheci meu limite, algo que posso trabalhar para melhorar ou me adaptar a ele, isso ainda não decidi!

2 comentários

  • Vânia Cristina Baffi

    Adorei essa caminha!!! Foi com certeza um tempo de boa experiência e muito aprendizado!! Parabéns pela coragem!!

  • Silvana Pousada Brilhante Itirapina

    Oi Aressa que experiência incrível para vcs, em todos os aspectos , muito bom sabermos nossos limites e supera-los ,avraço a vc e ao seu filho, voltem qq dia nos visitar.

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